20.12.09
24.9.09
As novas profissões para as pessoas novas
Acabei de encontrar uma palavra para usar nas situações onde tenho que informar sobre a minha profissão. E ela pode ser: multistylist. Esta idéia tem trazido a alegria ao ser útil a mim. É claro que nem sempre poderei usá-la, como ontem num cartório, onde em um momento eu escrevi “psicóloga”, e logo depois respondi: “curadora”. E o pior é que, se juntarmos as duas informações, fica parecendo que é curadora holística, da área de saúde mental, o que não é de fato.
Todos nós podemos sentir a alta velocidade e movimentação dos ares contemporâneos que nos fazem adotar atitudes mais fluidas, sentimentos criadores para estarmos inteiros e leves. Já está em vigor uma nova maneira de sentir e de viver, e a gente percebe esta realidade no nosso dia-a-dia quando deixamos a intuição acontecer. Pia Jane Bijkerk é uma profissional super influente em configurações de lifestyle e design de ambientes, e está falando disso mesmo: clica e veja.
Através do meu trabalho tenho participado dos processos criativos de alguns artistas e designers, e cada vez mais verifico que a invenção está aberta a todos, sem exceção, bastando um click de atitude. E esse click é existencial.
Vocês já ouviram dizer que “ a vida é um mistério a ser vivido, e não um negócio para ser administrado ”?
Me parece que esta afirmação vai totalmente contra a corrente do que se passa na grande maioria dos consultórios de psicologia, pois percebo um mesmo jargão nas pessoas que os freqüentam. Reparo que se diz muito assim: “ estou trabalhando na terapia para administrar esse aspecto da minha vida ”. E nossas relações vão ficando tão funcionais, não é? Parece tudo um grande escritório.
(Mas vamos continuar olhando/absorvendo esse antídoto eficaz que se encontra na frente dos nossos olhos agora...E se clicar na imagem ela expande.)
Sabe, para mim, ao aceitarmos viver o mistério, ele se abre para nós. Somente assim. Parece óbvio, não é? Mas o tempo todo nós queremos decodificar antes de experimentar, exigimos todas as garantias antes de viver.
São alguns takes que tirei do apartamento onde ela mora, na região central de Belo Horizonte.
E assim você me diga: poderia nomear uma única profissão para Lucia Lou? Sim, seria aquela na qual LL ganha o seu sustento. Mas se ela desejar – e aí se encontra o oásis da vida - poderá atuar na direção de arte, como interior stylist, na pintura, movelaria ...
E o quê mais?
Um lancezinho do seu estúdio, porque estúdio que se preza tem uma forte pinta de oficina.
Com este post o Novo Move inicia uma fase diferente, onde a presença das imagens e a experiência da fotografia certamente vão ampliar o seu expectro. Devo dizer, a atividade de fotograr é novíssima para mim, e nunca antes imaginada, já que nunca tive gosto especial por ela.
E como não sou nenhum Selby, mesmo amando!, incluí algumas fotos tiradas por Lucia Lou das caixas multiuso feitas por ela (a imagem de abertura deste post, inclusive).
E como não sou nenhum Selby, mesmo amando!, incluí algumas fotos tiradas por Lucia Lou das caixas multiuso feitas por ela (a imagem de abertura deste post, inclusive).
A proposta é pensarmos tudo a partir de uma multidimensionalidade,
porque assim já são as coisas e os ares de agora.
30.4.09
RACHEL HOSHINO
HOSHI – estrela
NO – campo, origem
A porcelana é a página em branco para a inscrição do nome Hoshino: uma renda de estrelas. A louça translúcida é o caderno de desenho de Rachel Hoshino.
A familiaridade de três gerações com a história da arte da porcelana permite a esta designer criar configurações inéditas. Assim é que a moulage passa a ser a arte de moldar uma ilustração no corpo da louça, e esse objeto ser identificado pelo colecionador e o amante de design com a marca Hoshino. Em suas palavras “o desenho abraça a peça”. Um galho de uma árvore estampada numa tigela não é cortado porque alcançou a linha que divide o dentro e o fora da peça, mas, igual à natureza, o galho abre o seu caminho e alcança o outro lado num gesto de permanente surpresa! (Enquanto você espera pela sopa quentinha que vai preencher a delicada vasilha os seus olhos passeiam e você se alimenta de uma forma muito sutil, com a liberdade dessa árvore imaginada.)
Na coleção N’Ovo Ninho, apresentada em Março de 2009, Rachel Hoshino procura tratar de maneira intencional e distanciada o seu processo de criar singularidades a partir de um repertório de configurações. Uma nova sensorialidade pode ser descoberta através de um processo aberto ao jogo de combinações entre formas, volumes, e cores que é iniciado pela designer no ambiente digital. Estende-se para o modo de produção das peças e prossegue, sempre aberto a influências, para os mais imprevistos espaços cotidianos. As peças são imaginadas para expandirem seu significado estético na relação com outras dentro de um grupo apresentado, e cada um desses pequenos conjuntos revela sentidos que ultrapassam em muito a soma das peças unitárias.
A pesquisa permanente de cultura visual e a experimentação através de viagens e do domínio da utilização de variadas técnicas e ferramentas digitais, definem o modo como R. Hoshino concebe seus desenhos. Antes de se tornarem imagens para serem contempladas em objetos, são grafismos nascidos da sua intenção de combinar formas e estruturas. Esses “módulos-mãe”, como Rachel os chama, são imagens-conceito que vão passando por processos velozes de edição digital como o aleatório, a rotação, inversão, repetição, e combinações sucessivas para criar sentidos, subjetividades. E quando vemos o seu desenho estampado nas mais diversas superfícies, como a porcelana, o tecido, a madeira, o papel, podemos reconhecer o seu traço pelo uso da linha preta, a assimetria das formas, e pelos volumes com grandes espaços vazios. Esses elementos da arte oriental são incorporados assim como o amplo universo temático da natureza.
Com formação em psicologia, Rachel H. está interessada em proporcionar elementos sensíveis aos ambientes cotidianos de modo que venham as novas percepções à flor da pele. As cores são portadoras de simbologias que remetem ao seu estilo: um tempo suspenso pela cor prata; uma atmosfera vivificante trazida pelo verde-água e alegria propiciada pela cor vinho. Algo quase sem peso como asas, nobre e misterioso como os tons dourados sobre as xícaras do cappuccino. Cores e formas que não se impõem, mas querem colaborar com o nosso projeto existencial de celebração sempre adiado.
O início, há dez anos, foi com a pintura em porcelana no atelier de azulejaria ao lado de sua mãe. Como conseqüência de intensa pesquisa de materiais e peças, desenvolveu sua linguagem dentro da cultura digital e de remixes. Interfere e reedita moldes da produção industrial para criar peças híbridas, objetos autorais. Aos saleiros, por exemplo, foram adicionadas variações como orelhas e chifres fazendo deles quase brinquedos para a hora das refeições. À xícara é subtraída a alça e o pires, transformando-a num objeto inédito, enquanto ao formato de garrafa são adicionadas várias alças de xícaras para servirem de cabelos e orelhas daquilo que se torna uma peça escultural decorativa.
A partir de 2007, passa a criar as próprias modelagens e a desenvolver tecnologias próprias para a gravação. Uma linha totalmente exclusiva de itens com funções que vão do utilitário ao decorativo, ganha corpo. A moringa de água, esse utilitário-símbolo de duração da simplicidade como estilo de vida, ganhou seu molde, e agora é uma Moringa Hoshino. O N’Ovo, novíssimo objeto em porcelana fosca, com funções múltiplas dentro da cenografia, pode ser um vaso para flores, e não recebeu nenhuma decoração. Isto é inovação no repertório de Rachel H., reconhecida como designer de superfície.
Também o patrimônio universal de design tem os seus objetos folclóricos e tradicionais remixados. As bonecas artesanais japonesas e russas são recriadas em diferentes versões e usos, como amuleto e também como pequenos cofres. Um dos mais queridos personagens do kitsch, o pingüim de geladeira, por ser único na forma e na ilustração, e por sempre receber novas versões, o Pingüim Hoshino é muito apreciado por colecionadores.
O ESTÚDIO
Com o apoio de pesquisadores e fabricantes, o estúdio Hoshino desenvolve tecnologias próprias como a gravação em porcelana fosca, a sobreposição e torção de desenhos, e a mistura de pigmentos. Também cria projetos exclusivos para clientes de áreas diversificadas como o institucional, tecelagens e confecções, decoração e papelaria. Para Rachel H. a criação é marcada pelo exercício de harmonizar a atenção direcionada tanto à imaginação quanto às necessidades de mercado, ambos somados aos limites apresentados pelo processo de produção industrial.
Participa de trabalhos coletivos no desenvolvimento do conceito de “múltiplos”, como a escultura em madeira de nome Bonsai, criada em parceria com a Vd’sign. O Diário das Estações, realizado juntamente com a designer Flávia Yumi Sakai: quatro cadernetas-diário em papel reciclado e encadernação artesanal com amarração japonesa recebem como ilustração um único objeto iconográfico, a árvore, que apresenta cores diferentes para cada estação do ano. Haru, que significa primavera em japonês, foi o nome da coleção desenvolvida para a Banca de Camisetas, com as cores prata e dourado. Criou estampas exclusivas para as camisetas da Santa Graça, e para a marca Marcenaria Trancoso; desenhos para as jóias de Gabriela Ricca e de Eleonora Hoshino. Os objetos decorativos em louça e lã acrílica são frutos de criação conjunta com a Crochet Jardim, de Thais Ueda.
Uma casa abriga o estúdio de criação, a oficina de decoração, o escritório administrativo, e o showroom que comercializa e distribui as peças Hoshino. Todos os espaços da casa respiram uma concentração alegre, e a cozinha onde um grupo de cinco jovens artesãs faz as suas refeições, tem o acolhimento de um ambiente doméstico bem cuidado. O trabalho na oficina de decoração não é automatizado, pois a linguagem mestra do processo criativo de Rachel H., com a edição digital e sua lógica recombinante de processos abertos, é estendida ao processo em 3D. A equipe tem, então, a oportunidade de criar, dentro de uma temática, inúmeras combinações a partir dos módulos de desenhos em decalque. Este processo faz com que parte das peças que vêm brancas de diferentes fábricas do Brasil, ganhem status de itens únicos. Quando em larga escala, a produção é feita fora, e pode acontecer de peças serem produzidas fora do país, como no caso do oriente.
Desde 2005 a Hoshino participa de feiras nacionais e internacionais, especializadas em decoração e design. Atualmente, exporta para Inglaterra, Bélgica, Japão. Conta com representações nas cidades de Londres, Nova York e Chicago. O atelier atende a pequenos pedidos pelo site e faz a distribuição dos produtos através do showroom. No Brasil a HOSHINO apresenta suas peças utilitárias e decorativas em lojas-conceito que oferecem, para um público bem informado, propostas diferenciadas de estilos de vida.
Março 2009
NO – campo, origem
A porcelana é a página em branco para a inscrição do nome Hoshino: uma renda de estrelas. A louça translúcida é o caderno de desenho de Rachel Hoshino.
A familiaridade de três gerações com a história da arte da porcelana permite a esta designer criar configurações inéditas. Assim é que a moulage passa a ser a arte de moldar uma ilustração no corpo da louça, e esse objeto ser identificado pelo colecionador e o amante de design com a marca Hoshino. Em suas palavras “o desenho abraça a peça”. Um galho de uma árvore estampada numa tigela não é cortado porque alcançou a linha que divide o dentro e o fora da peça, mas, igual à natureza, o galho abre o seu caminho e alcança o outro lado num gesto de permanente surpresa! (Enquanto você espera pela sopa quentinha que vai preencher a delicada vasilha os seus olhos passeiam e você se alimenta de uma forma muito sutil, com a liberdade dessa árvore imaginada.)
Na coleção N’Ovo Ninho, apresentada em Março de 2009, Rachel Hoshino procura tratar de maneira intencional e distanciada o seu processo de criar singularidades a partir de um repertório de configurações. Uma nova sensorialidade pode ser descoberta através de um processo aberto ao jogo de combinações entre formas, volumes, e cores que é iniciado pela designer no ambiente digital. Estende-se para o modo de produção das peças e prossegue, sempre aberto a influências, para os mais imprevistos espaços cotidianos. As peças são imaginadas para expandirem seu significado estético na relação com outras dentro de um grupo apresentado, e cada um desses pequenos conjuntos revela sentidos que ultrapassam em muito a soma das peças unitárias.
A pesquisa permanente de cultura visual e a experimentação através de viagens e do domínio da utilização de variadas técnicas e ferramentas digitais, definem o modo como R. Hoshino concebe seus desenhos. Antes de se tornarem imagens para serem contempladas em objetos, são grafismos nascidos da sua intenção de combinar formas e estruturas. Esses “módulos-mãe”, como Rachel os chama, são imagens-conceito que vão passando por processos velozes de edição digital como o aleatório, a rotação, inversão, repetição, e combinações sucessivas para criar sentidos, subjetividades. E quando vemos o seu desenho estampado nas mais diversas superfícies, como a porcelana, o tecido, a madeira, o papel, podemos reconhecer o seu traço pelo uso da linha preta, a assimetria das formas, e pelos volumes com grandes espaços vazios. Esses elementos da arte oriental são incorporados assim como o amplo universo temático da natureza.
Com formação em psicologia, Rachel H. está interessada em proporcionar elementos sensíveis aos ambientes cotidianos de modo que venham as novas percepções à flor da pele. As cores são portadoras de simbologias que remetem ao seu estilo: um tempo suspenso pela cor prata; uma atmosfera vivificante trazida pelo verde-água e alegria propiciada pela cor vinho. Algo quase sem peso como asas, nobre e misterioso como os tons dourados sobre as xícaras do cappuccino. Cores e formas que não se impõem, mas querem colaborar com o nosso projeto existencial de celebração sempre adiado.
O início, há dez anos, foi com a pintura em porcelana no atelier de azulejaria ao lado de sua mãe. Como conseqüência de intensa pesquisa de materiais e peças, desenvolveu sua linguagem dentro da cultura digital e de remixes. Interfere e reedita moldes da produção industrial para criar peças híbridas, objetos autorais. Aos saleiros, por exemplo, foram adicionadas variações como orelhas e chifres fazendo deles quase brinquedos para a hora das refeições. À xícara é subtraída a alça e o pires, transformando-a num objeto inédito, enquanto ao formato de garrafa são adicionadas várias alças de xícaras para servirem de cabelos e orelhas daquilo que se torna uma peça escultural decorativa.
A partir de 2007, passa a criar as próprias modelagens e a desenvolver tecnologias próprias para a gravação. Uma linha totalmente exclusiva de itens com funções que vão do utilitário ao decorativo, ganha corpo. A moringa de água, esse utilitário-símbolo de duração da simplicidade como estilo de vida, ganhou seu molde, e agora é uma Moringa Hoshino. O N’Ovo, novíssimo objeto em porcelana fosca, com funções múltiplas dentro da cenografia, pode ser um vaso para flores, e não recebeu nenhuma decoração. Isto é inovação no repertório de Rachel H., reconhecida como designer de superfície.
Também o patrimônio universal de design tem os seus objetos folclóricos e tradicionais remixados. As bonecas artesanais japonesas e russas são recriadas em diferentes versões e usos, como amuleto e também como pequenos cofres. Um dos mais queridos personagens do kitsch, o pingüim de geladeira, por ser único na forma e na ilustração, e por sempre receber novas versões, o Pingüim Hoshino é muito apreciado por colecionadores.
O ESTÚDIO
Com o apoio de pesquisadores e fabricantes, o estúdio Hoshino desenvolve tecnologias próprias como a gravação em porcelana fosca, a sobreposição e torção de desenhos, e a mistura de pigmentos. Também cria projetos exclusivos para clientes de áreas diversificadas como o institucional, tecelagens e confecções, decoração e papelaria. Para Rachel H. a criação é marcada pelo exercício de harmonizar a atenção direcionada tanto à imaginação quanto às necessidades de mercado, ambos somados aos limites apresentados pelo processo de produção industrial.
Participa de trabalhos coletivos no desenvolvimento do conceito de “múltiplos”, como a escultura em madeira de nome Bonsai, criada em parceria com a Vd’sign. O Diário das Estações, realizado juntamente com a designer Flávia Yumi Sakai: quatro cadernetas-diário em papel reciclado e encadernação artesanal com amarração japonesa recebem como ilustração um único objeto iconográfico, a árvore, que apresenta cores diferentes para cada estação do ano. Haru, que significa primavera em japonês, foi o nome da coleção desenvolvida para a Banca de Camisetas, com as cores prata e dourado. Criou estampas exclusivas para as camisetas da Santa Graça, e para a marca Marcenaria Trancoso; desenhos para as jóias de Gabriela Ricca e de Eleonora Hoshino. Os objetos decorativos em louça e lã acrílica são frutos de criação conjunta com a Crochet Jardim, de Thais Ueda.
Uma casa abriga o estúdio de criação, a oficina de decoração, o escritório administrativo, e o showroom que comercializa e distribui as peças Hoshino. Todos os espaços da casa respiram uma concentração alegre, e a cozinha onde um grupo de cinco jovens artesãs faz as suas refeições, tem o acolhimento de um ambiente doméstico bem cuidado. O trabalho na oficina de decoração não é automatizado, pois a linguagem mestra do processo criativo de Rachel H., com a edição digital e sua lógica recombinante de processos abertos, é estendida ao processo em 3D. A equipe tem, então, a oportunidade de criar, dentro de uma temática, inúmeras combinações a partir dos módulos de desenhos em decalque. Este processo faz com que parte das peças que vêm brancas de diferentes fábricas do Brasil, ganhem status de itens únicos. Quando em larga escala, a produção é feita fora, e pode acontecer de peças serem produzidas fora do país, como no caso do oriente.
Desde 2005 a Hoshino participa de feiras nacionais e internacionais, especializadas em decoração e design. Atualmente, exporta para Inglaterra, Bélgica, Japão. Conta com representações nas cidades de Londres, Nova York e Chicago. O atelier atende a pequenos pedidos pelo site e faz a distribuição dos produtos através do showroom. No Brasil a HOSHINO apresenta suas peças utilitárias e decorativas em lojas-conceito que oferecem, para um público bem informado, propostas diferenciadas de estilos de vida.
Março 2009
HOSHINO
N’OVO NINHO
Um momento subjetivo,
Um conjunto singular.
COLEÇÃO HOSHINO – Março 2009
O ovo é a forma matriz para todo o conjunto apresentado, e a idéia de ninho é geradora de objetos e de ilustrações. Conceituais, os Ovos-vasos introduzem o espírito de inovação desta produção mais recente de Rachel Hoshino. Na porcelana branca fosca com modelagem exclusiva, eles vêm sem qualquer decoração, a não ser pelos orifícios esculpidos por onde flores podem ser introduzidas. Em diferentes escalas, assumem um amplo espectro de funções, desde a decorativa e utilitária – um vaso para flores –, à cenográfica, como na ambiência apresentada no flyer da coleção. Quando flores são colocadas dentro dos Ovos-vasos o efeito é como se elas tivessem rompido a casca do ovo. De novo o mistério da criação se renova, e as flores não foram colocadas lá, mas sempre ali estiveram, e de fato nasceram bem dentro desse ovo-vaso. E para serem vistas à luz tiveram que quebrar a membrana de porcelana do vaso.
O mesmo processo acontece com a casa, que é apresentada como o espaço de criação por excelência na vida urbana contemporânea. Os objetos são como despertadores sutis, como o casal de Andorinhas, que pode ser um vaso em miniatura para pequenos arranjos de flores silvestres, preenchendo de vida o lavabo. Iluminada pela presença rara de uma pequena lamparina de cristal, toda a casa mostra-se como lugar sonhado para expandir o imaginário através de objetos que não se deixam apreender em um único olhar. Cuidado: frágil! A segurança vem de se iluminar, e não mais de se esconder, e os objetos com forte presença podem nos deixar alertas! A casa ninho só é segura se aceitar a sua fragilidade plena de sentidos, e desejos de conexões.
Biscuits em forma de ovos são caixinhas, ninhos imantados de simbologias, lugar secreto para as luxuosas e singelas recordações de nossas vidas íntimas. O Nido (ninho em espanhol) recebeu no seu interior outro ovo que é uma vela. Um elemento gráfico remete à pena, e cria um ninho para a vela, e todo o interior da peça é banhado de ouro líquido. A aplicação de estampa e do banho metálico no biscuit – a porcelana sem esmalte – é uma tecnologia exclusiva do estúdio Hoshino, o que torna esses objetos ainda mais especiais.
A moringa Hoshino vem com molde próprio em linhas ovais trazendo vários desenhos. A moulage criada pelo grafismo de penas do Pavão ao abraçar a peça inteira, se destaca, e imprime a sua influência e continuidade até no copo que faz parte dela.
Esse jogo de combinações é um elemento essencial da linguagem da designer Rachel H., e funciona igual às ondas que se formam quando jogamos uma pedra num lago. Um processo aberto que começa na ambiência digital, se instala no modo de produção das suas peças, sempre procurando criar cenas, mais que objetos individuais. Até chegar ao seu destino, dentro dos espaços cotidianos, onde esse aspecto lúdico da criação pode ser apropriado por quem for receptivo a ele.
Essa qualidade está presente nos Vasos Alados, formas fluidas da porcelana com volumes e cores na medida certa para receber as mais criativas combinações dentro de modernos ambientes urbanos. Na peça em branco fosco, por exemplo, a estampa aparece preenchida por tons de dourado, enquanto na louça preta apenas uma linha dourada dá contorno ao mesmo desenho. Uma composição de espelhamentos de sentidos resulta da relação entre essas duas peças, e configura uma cena para a contemplação, experiência tão própria aos nobres vasilhames para flores!
O repertório da ilustradora também se comporta como rede conectiva. As estampas que, nesta coleção, são variações dinâmicas das formas ovais, geram grafismos como Gotas, que se transmutam em Penas, e se metamorfoseiam em Asas que em movimentos ascendente e descendente abraçam as peças, como nos Vasos e Moringas Aladas. Galáxia já é um grafismo que parte da bola, e se relaciona com outros elementos gráficos do seu acervo iconográfico.
Dentro desse jogo combinatório cabem as reedições, e todos são hits Hoshino que, neste conjunto, retornam em ouro e platina. O aparelho de chá decorado com Renda-se, um grafismo que alude aos elaborados crochês da vovó, nas cores platina, ouro e preto, expressa a sofisticação dessas rendas. O casal de Andorinhas, um clássico do repertório popular, vem estampado com os grafismos dos azulejos da cidade de Coimbra, pesquisados em sua viagem à Portugal. O desenho do dente-de-leão, Tampopo em japonês, reaparece com toda a sua grandeza numa moringa de cristal. E, para os colecionadores, a dupla de saleiros-toy O Bem e o Mal.
Bem ao estilo de Rachel Hoshino, as cores significam. A cartela enxuta de inspiração sóbria e elegante, composta com as cores e gradações do dourado, preto e prata, endereça os objetos para elevar as atmosferas das quais irão participar.
Um momento subjetivo,
Um conjunto singular.
COLEÇÃO HOSHINO – Março 2009
O ovo é a forma matriz para todo o conjunto apresentado, e a idéia de ninho é geradora de objetos e de ilustrações. Conceituais, os Ovos-vasos introduzem o espírito de inovação desta produção mais recente de Rachel Hoshino. Na porcelana branca fosca com modelagem exclusiva, eles vêm sem qualquer decoração, a não ser pelos orifícios esculpidos por onde flores podem ser introduzidas. Em diferentes escalas, assumem um amplo espectro de funções, desde a decorativa e utilitária – um vaso para flores –, à cenográfica, como na ambiência apresentada no flyer da coleção. Quando flores são colocadas dentro dos Ovos-vasos o efeito é como se elas tivessem rompido a casca do ovo. De novo o mistério da criação se renova, e as flores não foram colocadas lá, mas sempre ali estiveram, e de fato nasceram bem dentro desse ovo-vaso. E para serem vistas à luz tiveram que quebrar a membrana de porcelana do vaso.
O mesmo processo acontece com a casa, que é apresentada como o espaço de criação por excelência na vida urbana contemporânea. Os objetos são como despertadores sutis, como o casal de Andorinhas, que pode ser um vaso em miniatura para pequenos arranjos de flores silvestres, preenchendo de vida o lavabo. Iluminada pela presença rara de uma pequena lamparina de cristal, toda a casa mostra-se como lugar sonhado para expandir o imaginário através de objetos que não se deixam apreender em um único olhar. Cuidado: frágil! A segurança vem de se iluminar, e não mais de se esconder, e os objetos com forte presença podem nos deixar alertas! A casa ninho só é segura se aceitar a sua fragilidade plena de sentidos, e desejos de conexões.
Biscuits em forma de ovos são caixinhas, ninhos imantados de simbologias, lugar secreto para as luxuosas e singelas recordações de nossas vidas íntimas. O Nido (ninho em espanhol) recebeu no seu interior outro ovo que é uma vela. Um elemento gráfico remete à pena, e cria um ninho para a vela, e todo o interior da peça é banhado de ouro líquido. A aplicação de estampa e do banho metálico no biscuit – a porcelana sem esmalte – é uma tecnologia exclusiva do estúdio Hoshino, o que torna esses objetos ainda mais especiais.
A moringa Hoshino vem com molde próprio em linhas ovais trazendo vários desenhos. A moulage criada pelo grafismo de penas do Pavão ao abraçar a peça inteira, se destaca, e imprime a sua influência e continuidade até no copo que faz parte dela.
Esse jogo de combinações é um elemento essencial da linguagem da designer Rachel H., e funciona igual às ondas que se formam quando jogamos uma pedra num lago. Um processo aberto que começa na ambiência digital, se instala no modo de produção das suas peças, sempre procurando criar cenas, mais que objetos individuais. Até chegar ao seu destino, dentro dos espaços cotidianos, onde esse aspecto lúdico da criação pode ser apropriado por quem for receptivo a ele.
Essa qualidade está presente nos Vasos Alados, formas fluidas da porcelana com volumes e cores na medida certa para receber as mais criativas combinações dentro de modernos ambientes urbanos. Na peça em branco fosco, por exemplo, a estampa aparece preenchida por tons de dourado, enquanto na louça preta apenas uma linha dourada dá contorno ao mesmo desenho. Uma composição de espelhamentos de sentidos resulta da relação entre essas duas peças, e configura uma cena para a contemplação, experiência tão própria aos nobres vasilhames para flores!
O repertório da ilustradora também se comporta como rede conectiva. As estampas que, nesta coleção, são variações dinâmicas das formas ovais, geram grafismos como Gotas, que se transmutam em Penas, e se metamorfoseiam em Asas que em movimentos ascendente e descendente abraçam as peças, como nos Vasos e Moringas Aladas. Galáxia já é um grafismo que parte da bola, e se relaciona com outros elementos gráficos do seu acervo iconográfico.
Dentro desse jogo combinatório cabem as reedições, e todos são hits Hoshino que, neste conjunto, retornam em ouro e platina. O aparelho de chá decorado com Renda-se, um grafismo que alude aos elaborados crochês da vovó, nas cores platina, ouro e preto, expressa a sofisticação dessas rendas. O casal de Andorinhas, um clássico do repertório popular, vem estampado com os grafismos dos azulejos da cidade de Coimbra, pesquisados em sua viagem à Portugal. O desenho do dente-de-leão, Tampopo em japonês, reaparece com toda a sua grandeza numa moringa de cristal. E, para os colecionadores, a dupla de saleiros-toy O Bem e o Mal.
Bem ao estilo de Rachel Hoshino, as cores significam. A cartela enxuta de inspiração sóbria e elegante, composta com as cores e gradações do dourado, preto e prata, endereça os objetos para elevar as atmosferas das quais irão participar.
15.4.09
Notícias
Aqui é a primeira vez que o novo move, recém nascido, aparece fora das suas páginas. É um lindo blog de viagem que acompanhei intensamente, e terminou com a volta de Elisa R. para casa em SP. Vai lá!
http://nefertitibackhome.blogspot.com/2009/01/eu-voc-e-torcida-do-corinthians-em.html
Você verá que ela continua sua vida inteligente na Monstrópolis, novo point: www.avidanamonstropolis.blogspot.com .
http://nefertitibackhome.blogspot.com/2009/01/eu-voc-e-torcida-do-corinthians-em.html
Você verá que ela continua sua vida inteligente na Monstrópolis, novo point: www.avidanamonstropolis.blogspot.com .
11.4.09
O Lugar Original
Novos conceitos de pontos de venda vêm surgindo no Brasil para a apresentação dos novos objetos de design brasileiro. A sua característica principal, além de uma ambiência cosmopolita, é oferecer propostas de comportamento e de estilos de vida a um também novo consumidor. Chamados de “lojas-conceito”, esses pontos de venda desejam apresentar informação de vanguarda ao seu público, e não apenas produtos, por mais interessantes que eles possam ser.
Como o nome diz, elas oferecem pensamento, acima de tudo. E um conceito forte não traz apenas informação, mas é carregado de uma experiência que o confirma. Uma idéia que magnetiza é algo vivo!Você já deve ter tido a oportunidade de ampliar o conhecimento sobre o seu produto. O seu produto tem uma marca. A sua marca tem identidade. E a identidade da sua marca é múltipla? Então chegamos à pergunta-chave: qual é o espírito da sua marca? A sua marca é algo vivo?
A descoberta da alma de um trabalho é necessária para encontrar o seu suporte, o espaço de apresentação mais afinado com ele, onde todo o seu potencial poderá se firmar.Lugar onde toda a sua potência pode acontecer com liberdade e propriedade. E esse lugar assume formatos mutantes. Somente assim teremos um objeto vivo, um espaço apto a oferecer experiências do âmbito da cultura, e um cliente que busca informação contemporânea nos objetos e nos ambientes.
Super indico o http://www.deuxl.com que apresenta o forte trabalho de Lena Pessoa. Meu primeiro contato com ele foi através da sua palestra "Loja - Imagem - Faturamento", em março de 2006 no BH Shopping, como parte da programação do BH Fashion Music. Foi muito importante para mim encontrar alguém com um grande poder realizador e com atitudes tão próximas àquelas que eu vivencio.
Revelar o que é autoral, o espírito de uma marca, a sua cultura. Se ela é mesmo original pode propiciar a aventura do descobrimento de novas formas para expressar, dar apoio e gerar novos comportamentos cada vez mais afinados com o momento presente, que é o lugar onde tudo acontece. Essa é uma das características de um objeto autoral, de um objeto de design: ele tem a mesma envergadura de um filme, de uma música pop. Não importa o tamanho, mas uma singularidade expressiva propiciadora de conexões, geradora e receptora de sentidos. E a criação de todas as propostas de fortalecimento e irradiação do negócio em si vem da descoberta da sua linguagem própria.
Este processo de pesquisa, criação e produção que me proponho a realizar junto com o designer e o lojista, eu tenho chamado de curadoria. Um processo criativo que envolve estética, valores vitais, concepção e gestão de objetos imaginados de múltiplas naturezas. O design é indústria, mas também é experimentação de linguagens estando por isso ligado à cultura, arte, comportamento. E um modelo como o “plano de negócios”, por exemplo, não pode abranger as complexidades desse objeto.
Não dá para pensar uma marca a partir de um padrão identitário. Portanto, tratamos com subjetividades e não com identidades e outros tipos de sistemas fechados. Os hibridismos, a conectividade simultânea com várias fontes de informação, a experiência multidimensionada de vários processos criativos estão envolvidos, e necessitam de uma mediação aberta às configurações polifônicas.Este trabalho procura pensar e atuar na contemporaneidade propondo conexões com as teorias e filosofias atuais.
A moda, o design, o audio-visual, fazem parte do que é chamado hoje de economia criativa, pois envolve as relações culturais, industriais e comerciais. É cultura, é estética, é produção cultural e industrial. Para criar, desenvolver e produzir em um contexto complexo e competitivo é preciso adotar uma ótica de simultaneidades que é propiciada por um repertório teórico abrangente.
SP – 02 Março 2009
Como o nome diz, elas oferecem pensamento, acima de tudo. E um conceito forte não traz apenas informação, mas é carregado de uma experiência que o confirma. Uma idéia que magnetiza é algo vivo!Você já deve ter tido a oportunidade de ampliar o conhecimento sobre o seu produto. O seu produto tem uma marca. A sua marca tem identidade. E a identidade da sua marca é múltipla? Então chegamos à pergunta-chave: qual é o espírito da sua marca? A sua marca é algo vivo?
A descoberta da alma de um trabalho é necessária para encontrar o seu suporte, o espaço de apresentação mais afinado com ele, onde todo o seu potencial poderá se firmar.Lugar onde toda a sua potência pode acontecer com liberdade e propriedade. E esse lugar assume formatos mutantes. Somente assim teremos um objeto vivo, um espaço apto a oferecer experiências do âmbito da cultura, e um cliente que busca informação contemporânea nos objetos e nos ambientes.
Super indico o http://www.deuxl.com que apresenta o forte trabalho de Lena Pessoa. Meu primeiro contato com ele foi através da sua palestra "Loja - Imagem - Faturamento", em março de 2006 no BH Shopping, como parte da programação do BH Fashion Music. Foi muito importante para mim encontrar alguém com um grande poder realizador e com atitudes tão próximas àquelas que eu vivencio.
Revelar o que é autoral, o espírito de uma marca, a sua cultura. Se ela é mesmo original pode propiciar a aventura do descobrimento de novas formas para expressar, dar apoio e gerar novos comportamentos cada vez mais afinados com o momento presente, que é o lugar onde tudo acontece. Essa é uma das características de um objeto autoral, de um objeto de design: ele tem a mesma envergadura de um filme, de uma música pop. Não importa o tamanho, mas uma singularidade expressiva propiciadora de conexões, geradora e receptora de sentidos. E a criação de todas as propostas de fortalecimento e irradiação do negócio em si vem da descoberta da sua linguagem própria.
Este processo de pesquisa, criação e produção que me proponho a realizar junto com o designer e o lojista, eu tenho chamado de curadoria. Um processo criativo que envolve estética, valores vitais, concepção e gestão de objetos imaginados de múltiplas naturezas. O design é indústria, mas também é experimentação de linguagens estando por isso ligado à cultura, arte, comportamento. E um modelo como o “plano de negócios”, por exemplo, não pode abranger as complexidades desse objeto.
Não dá para pensar uma marca a partir de um padrão identitário. Portanto, tratamos com subjetividades e não com identidades e outros tipos de sistemas fechados. Os hibridismos, a conectividade simultânea com várias fontes de informação, a experiência multidimensionada de vários processos criativos estão envolvidos, e necessitam de uma mediação aberta às configurações polifônicas.Este trabalho procura pensar e atuar na contemporaneidade propondo conexões com as teorias e filosofias atuais.
A moda, o design, o audio-visual, fazem parte do que é chamado hoje de economia criativa, pois envolve as relações culturais, industriais e comerciais. É cultura, é estética, é produção cultural e industrial. Para criar, desenvolver e produzir em um contexto complexo e competitivo é preciso adotar uma ótica de simultaneidades que é propiciada por um repertório teórico abrangente.
SP – 02 Março 2009
2.3.09
Um Pensamento Novo de Multimarca
A pequenina “Mercado”, situada numa das ruas que convergem na Praça da Savassi em Belo Horizonte, bem ao gosto local, aprecia tecnologia de ponta, mas faz o tipo simples. Por ser uma cidade recente, nascida de um projeto arquitetônico, essas realidades refletem no seu habitante. Para um consumidor que valoriza o estar à vontade é interessante uma loja que invista mais no mix de criadores que expõe, e de uma forma singela de apresentação, propiciar acesso às informações que vêm deles. Sem carão, porque ninguém é obrigado, entende?
Aberta em 2004, tendo como mobiliário aqueles containeres de madeira usados nos mercados, e uma saúde empresarial invejável, esta lojinha pode muito facilmente passar despercebida pelo transeunte, mas não pelo flâneur. Supre de novidade tanto as produtoras de moda em seus editoriais, como atende a uma clientela sem idade e sem classe social que procura vanguarda.
Aberta em 2004, tendo como mobiliário aqueles containeres de madeira usados nos mercados, e uma saúde empresarial invejável, esta lojinha pode muito facilmente passar despercebida pelo transeunte, mas não pelo flâneur. Supre de novidade tanto as produtoras de moda em seus editoriais, como atende a uma clientela sem idade e sem classe social que procura vanguarda.
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Poderíamos dizer que Sílvia e Marcela vendem frescor. Trabalham com novíssimos estilistas que não podem oferecer grade, reposição e qualidade de acabamento em seus produtos, mas oferecem o inédito e o experimental. Para manter a chama acesa do espírito da casa são necessárias renovações constantes do estoque, uma relação aberta, com ouvido afinado para pesquisa em tempo integral junto ao cliente e aos fornecedores, incluindo viagens incessantes para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Muito interessante é o garimpo que fazem nas pronta-entregas da Grande BH, um dos principais pólos de confecções com comércio atacadista do Brasil. Esse projeto de hibridismos estéticos é oferecido como uma prestação de serviço à sua cliente, sendo muito bem recebido por ela. O nome “Mercado” estampado num pedaço de chita vai por cima da marca original das peças recolhidas através da indicação de seu olhar muito particular. Uma espécie de curadoria faz itens anônimos ganharem vida muito nova nas araras desse micro lab-loja.
Muito interessante é o garimpo que fazem nas pronta-entregas da Grande BH, um dos principais pólos de confecções com comércio atacadista do Brasil. Esse projeto de hibridismos estéticos é oferecido como uma prestação de serviço à sua cliente, sendo muito bem recebido por ela. O nome “Mercado” estampado num pedaço de chita vai por cima da marca original das peças recolhidas através da indicação de seu olhar muito particular. Uma espécie de curadoria faz itens anônimos ganharem vida muito nova nas araras desse micro lab-loja.
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As meninas adotaram ainda mecanismos muito próprios que lhes permitem viver a rotina do cotidiano da loja com o seu jeito único, como pequenos cartazes com avisos das saídas rápidas e de "seja bem-vindo" quando a loja está atendendo. São peças de comunicação na medida para lhes garantir liberdade, singularidade e faturamento, claro! Existem ainda as bijoux e uma pequena produção de peças de vestir que são feitas por elas, dando o toque final ao mix muito particular.
Desde a década de 1990 vem acontecendo um movimento de renovação nos pontos de venda que comercializam várias marcas, com a emergência de novos conceitos para este tipo de negócio. A loja multimarca que antes colocava em evidência os seus fornecedores sem apresentar uma idéia acerca desse conjunto, hoje pode fazer do seu ponto de venda a sua marca própria. Ao descobrir sentidos para o mix que oferece, abre também a oportunidade para criar propostas de comportamentos que podem ser percebidas e desejadas pelo cliente.
Com o surgimento do que pode ser chamado de “objeto de design brasileiro”, a moda aí incluída, tornou-se necessária a criação do seu espaço de veiculação. Pontos de vendas com projetos inéditos e arrojados nascem para apresentar idéias e sentidos de vida, ou lifestyles, através do seu casting de selos e designers, conectando ambiências antes díspares como moda, gastronomia e galeria de arte; mercado, moda, arquitetura, e tantas outras!
BH - 2005
Desde a década de 1990 vem acontecendo um movimento de renovação nos pontos de venda que comercializam várias marcas, com a emergência de novos conceitos para este tipo de negócio. A loja multimarca que antes colocava em evidência os seus fornecedores sem apresentar uma idéia acerca desse conjunto, hoje pode fazer do seu ponto de venda a sua marca própria. Ao descobrir sentidos para o mix que oferece, abre também a oportunidade para criar propostas de comportamentos que podem ser percebidas e desejadas pelo cliente.
Com o surgimento do que pode ser chamado de “objeto de design brasileiro”, a moda aí incluída, tornou-se necessária a criação do seu espaço de veiculação. Pontos de vendas com projetos inéditos e arrojados nascem para apresentar idéias e sentidos de vida, ou lifestyles, através do seu casting de selos e designers, conectando ambiências antes díspares como moda, gastronomia e galeria de arte; mercado, moda, arquitetura, e tantas outras!
BH - 2005
Crédito da foto: Caixa de Mantimentos; objeto e foto de Lúcia Lou
22.1.09
O MUNDO DE RENATA SANDOVAL
Os objetos de Renata Sandoval são esculturas, e elas não são simplesmente aqueles “lindos” objetos feitos para decorar “quartos de bebê espertinhos e salas de bem estar descoladas”. Claro, nada contra as pessoas, mas tudo contra os lugares instituídos para que as pessoas se acomodem
Nesse momento são poucos os que vêem a enorme diferença que existe entre uma peça decorativa e um objeto de arte. Mas vamos olhar para as esculturas de Renata. O que vemos? Suas criações respiram. Elas pulsam, podemos sentir a vitalidade nelas. O peito, o lugar do coração é aberto, é erguido. É estranho dizer assim, mas o que é vivo é misterioso, difícil de ser apreendido pela linguagem.
Outra coisa que se pode perceber nesses objetos é que são diferentes. Uma palavra tão surrada esta! Um parêntese super necessário aqui: é muito difícil reconhecer o diferente. Não dá para viver uma vida standartizada e valorizar o que é autoral. Ter o próprio olhar sobre as coisas, sobre a vida, não é algo dado de graça, mas que é preciso ser conquistado. É preciso encarar a nossa própria diferença, experiência que quase todos evitam porque dói. Mas o artista se cria aí. E assim, criar o próprio olhar é preciso para valorizar o que é próprio, o que é diferenciado.
As esculturas de Renata Sandoval podem despertar em nós o humor. A presença da qualidade da alegria é um atestado de coisa viva. Elas têm um jeito de corpo que vem de dentro. O desenho é orgânico, não é imitativo. Diz-se isto porque a silhueta vibra! Um outro objeto qualquer que podemos decodificar através da nossa memória é como uma múmia, uma mímica. “Lindo”? Pode ser. Mas fantasmagórico. Morto, sem dúvida.
Acho que podemos dizer também que são figuras com uma atitude própria, como portadoras de um orgulho de viver, de uma liberdade desafiadora! Por isto é um privilégio tê-las por perto: no quarto das nossas crianças, naqueles espaços das nossas casas onde celebramos com os amigos, e também nos lugares onde trabalhamos na cidade. Objetos assim são como imãs energéticos que não nos deixam esquecer de nós mesmos.
Nesse momento são poucos os que vêem a enorme diferença que existe entre uma peça decorativa e um objeto de arte. Mas vamos olhar para as esculturas de Renata. O que vemos? Suas criações respiram. Elas pulsam, podemos sentir a vitalidade nelas. O peito, o lugar do coração é aberto, é erguido. É estranho dizer assim, mas o que é vivo é misterioso, difícil de ser apreendido pela linguagem.
Outra coisa que se pode perceber nesses objetos é que são diferentes. Uma palavra tão surrada esta! Um parêntese super necessário aqui: é muito difícil reconhecer o diferente. Não dá para viver uma vida standartizada e valorizar o que é autoral. Ter o próprio olhar sobre as coisas, sobre a vida, não é algo dado de graça, mas que é preciso ser conquistado. É preciso encarar a nossa própria diferença, experiência que quase todos evitam porque dói. Mas o artista se cria aí. E assim, criar o próprio olhar é preciso para valorizar o que é próprio, o que é diferenciado.
As esculturas de Renata Sandoval podem despertar em nós o humor. A presença da qualidade da alegria é um atestado de coisa viva. Elas têm um jeito de corpo que vem de dentro. O desenho é orgânico, não é imitativo. Diz-se isto porque a silhueta vibra! Um outro objeto qualquer que podemos decodificar através da nossa memória é como uma múmia, uma mímica. “Lindo”? Pode ser. Mas fantasmagórico. Morto, sem dúvida.
Acho que podemos dizer também que são figuras com uma atitude própria, como portadoras de um orgulho de viver, de uma liberdade desafiadora! Por isto é um privilégio tê-las por perto: no quarto das nossas crianças, naqueles espaços das nossas casas onde celebramos com os amigos, e também nos lugares onde trabalhamos na cidade. Objetos assim são como imãs energéticos que não nos deixam esquecer de nós mesmos.
L U C I A L O U
O percurso profissional de Maria Lucia Loureiro
é marcado por uma qualidade bem própria, que é o da prestação de serviço, com o uso de um vasto repertório técnico. É esta prática que propicia a ela uma formação consistente como designer. À medida que produz trabalhos para outros estilistas de joalheria, a sua arte vai sendo gerada ao longo desse percurso como que subterraneamente. Desse modo, realiza um trabalho que não se preocupa em buscar um público ou canais de comercialização, mas é desenvolvido como experimentação, como reflexão do seu fazer como designer. No panorama da contemporaneidade, o que se costuma buscar e nomear como autoral se dá, na maior parte das vezes, às avessas do caminho trilhado por Lucia Lou, o que faz da sua experiência algo bem próprio.
Mesmo hoje, quando seu trabalho sai da banca do estúdio - que sempre foi dentro de casa -, e é exposto em diferentes espaços, mesmo então ele é 100% autônomo em relação ao mercado. São peças pequeninas, leves, singelas, com acento às vezes vintage, e que trazem principalmente a marca do engenho. Alguns itens vieram à luz a partir de uma idéia engenhosa colocada em prática com uma técnica que é, na verdade, um truque, um insight executado com apuro e ligeireza.
¨As minhas peças atuais são como desenhos com fios de ouro que reciclo, às vezes de peças quebradas que compro e que têm somente o valor do metal.Daí as peças são fundidas e o ouro apurado. Depois do ouro puro, faço a liga de ouro 18k e dai puxo o fio ou a chapa.¨
A orientação de se gastar o mínimo de matérias primas é ordenadora dentro da pequena obra de Lucia L. O seu trabalho como um todo procura o pequeno, assim como o planeta Mercúrio é pequeno também dentro do sistema solar onde habitamos. São objetos mínimos, mas carregados intensamente de reverberações significantes, principalmente ligadas às áreas dos afetos.
Invenção, habilidade. E poesia. As peças de Lucia Lou têm uma aura existencial, com um toque de frescor que surpreendem por serem tão únicas!
P I E D A D _ SÃO PAULO
Ana Maria Piedade é quem cria e produz as peças da sua grife Piedad desde 1998, logo após concluir o curso de “Estilo” na Esmod/ Senac (1995 – 1997). A estilista nasceu e vive na cidade de São Paulo.
As criações de Piedad_São Paulo já vestiram Carol Trentini, Gisele Bundchen, e Cristina Itié em editoriais de importantes publicações de moda brasileiras. Também vestem Piedad SP, a cantora Mônica Salmaso, as atrizes Andréa Beltrão, Rosamaria Murtinho, Débora Secco, e a espanhola Victoria Abril, conhecida por suas participações nos filmes de Pedro Almodóvar.
A grife Piedad_São Paulo:
A imagem inicial vem de uma narrativa: a história de uma princesa que exigia de seus ourives que suas jóias fossem inspiradas nos intrincados desenhos das rendas. Ana Maria Piedade quer transformar a própria renda, seu material gerador, inserindo nela variados processos criativos que resultam em peças autorais dentro do universo do luxo, tal como uma jóia.
O processo criativo principal é o tingimento artesanal, que é realizado peça a peça pela própria estilista em seu atelier. É um processo bastante arriscado, onde o resultado não pode ser 100% previsto, mas que vai sendo continuamente aprimorado através dessa experimentação mesma com as cores. Nas palavras da estilista: “Ao trabalhar os tons chego ao espírito do meu trabalho”.
Os materiais fluidos e nobres como a renda guipir, o tule francês, o veludo alemão, fitas de seda e cetim recebem ainda a inserção de vários outros procedimentos criativos como as aplicações, o bordado e o rebordado com aviamentos provenientes do contexto da ourivesaria e da chamada bijuteria de renda, tais como as pedrarias, contas, vidrilhos. Além de adornos extraordinários, propiciadores de vivacidade, como rabos de galo e penas.
O espírito de Piedad_São Paulo é o exercício de acessorizar, de pensar uma vestimenta através da linguagem do acessório. A mensagem mestra dessa linguagem é a criação do detalhe, principalmente através da cor, com o sentido de criar individualidade. Outro conceito que poderia ser extraído do ato de acessorizar seria destituir as funcionalidades racionais de qualquer peça para o corpo. Não roupas, mas indumentárias contemporâneas, pois carregam signos estéticos, poéticos.
Estolas, echarpes, vestidos, boleros, adornos para cabeça, braços, cintura. Todos esses itens imprimem leveza, charme e um luxo atemporal nos corpos femininos. Em um look, Piedad SP será aquele item encarregado de dar a coloração única. Cada pessoa, cada ser, tem a sua cor, e Piedad SP revela a cor sensível de cada um com um toque absolutamente próprio e atual.
As criações de Piedad_São Paulo já vestiram Carol Trentini, Gisele Bundchen, e Cristina Itié em editoriais de importantes publicações de moda brasileiras. Também vestem Piedad SP, a cantora Mônica Salmaso, as atrizes Andréa Beltrão, Rosamaria Murtinho, Débora Secco, e a espanhola Victoria Abril, conhecida por suas participações nos filmes de Pedro Almodóvar.
A grife Piedad_São Paulo:
A imagem inicial vem de uma narrativa: a história de uma princesa que exigia de seus ourives que suas jóias fossem inspiradas nos intrincados desenhos das rendas. Ana Maria Piedade quer transformar a própria renda, seu material gerador, inserindo nela variados processos criativos que resultam em peças autorais dentro do universo do luxo, tal como uma jóia.
O processo criativo principal é o tingimento artesanal, que é realizado peça a peça pela própria estilista em seu atelier. É um processo bastante arriscado, onde o resultado não pode ser 100% previsto, mas que vai sendo continuamente aprimorado através dessa experimentação mesma com as cores. Nas palavras da estilista: “Ao trabalhar os tons chego ao espírito do meu trabalho”.
Os materiais fluidos e nobres como a renda guipir, o tule francês, o veludo alemão, fitas de seda e cetim recebem ainda a inserção de vários outros procedimentos criativos como as aplicações, o bordado e o rebordado com aviamentos provenientes do contexto da ourivesaria e da chamada bijuteria de renda, tais como as pedrarias, contas, vidrilhos. Além de adornos extraordinários, propiciadores de vivacidade, como rabos de galo e penas.
O espírito de Piedad_São Paulo é o exercício de acessorizar, de pensar uma vestimenta através da linguagem do acessório. A mensagem mestra dessa linguagem é a criação do detalhe, principalmente através da cor, com o sentido de criar individualidade. Outro conceito que poderia ser extraído do ato de acessorizar seria destituir as funcionalidades racionais de qualquer peça para o corpo. Não roupas, mas indumentárias contemporâneas, pois carregam signos estéticos, poéticos.
Estolas, echarpes, vestidos, boleros, adornos para cabeça, braços, cintura. Todos esses itens imprimem leveza, charme e um luxo atemporal nos corpos femininos. Em um look, Piedad SP será aquele item encarregado de dar a coloração única. Cada pessoa, cada ser, tem a sua cor, e Piedad SP revela a cor sensível de cada um com um toque absolutamente próprio e atual.
OUTONO INVERNO E.M. 2007
Gabriela Demarco é quem cria e desenvolve não só os itens da última coleção Elvira Matilde, mas é quem, a cada nova produção, amplia e fortalece o espírito da marca. A campanha da Coleção Outono/Inverno EM 2007 é a quinta realizada toda com os clientes, amigos e parceiros. Desta vez as fotos do Livro de Coleção EM aconteceram num galpão todo aberto para a Mata do Jambreiro, uma reserva ecológica em Nova Lima, município vizinho à Belo Horizonte, que vem recebendo uma migração de “mineiros–cabeça” à procura, em suas montanhas, da paz e outras qualidades de vida que se tornaram essenciais neste início de século.
Gabriela sabe criar a cena. Pintou dois painéis panorâmicos que foram instalados sinalizando performaticamente o local dos acontecimentos. Ao longo do tempo ela trabalhou com alguns fotógrafos, e sempre por mais de uma vez, como uma parceria experimental e investigativa. Com o Feli Coelho existem qualidades únicas, pois foi ele quem fotografou os primeiros tempos de Gabriela no Brasil, quem fotografou a sua família nascente, suas meninas, seus amigos em ação, seus trabalhos iniciais, mas desde já, muito próprios: Urso Panda Gigante (BH, 1983), “onde o nome escrito inúmeras vezes em olivetti – numa fita fininha – alude de forma contrária ao tamanho do animal”. Manta Para Via Pública (BH, 1984), “tapete também gigante no alto da Afonso Pena, este mar ou rio feito de formulário contínuo, hoje em desuso, vira incrivelmente líquido com as ráfagas de vento. E depois, aquele resíduo de papel amassado é até comovente para quem estava lá. A Garota – carranca emblemática de pau de vassoura; apossado de um lote de jornal pintado, materiais perecíveis rasgam, são inadequados, quase impossíveis no espaço público”, nas suas próprias palavras.
Essas primeiras movimentações públicas de Gabriela Demarco no Brasil são expressões físicas/ambientais com grande envolvimento grupal: manufaturas transbordantes ao ar livre que exigiam grandes áreas e vários corpos para serem transportadas e instaladas. Os objetos de grandes proporções, realizados obsessivamente como respiração nos minutos dos dias e das noites, eram transportados por amigos e pelos amigos dos amigos para ambientes urbanos os mais diversos, como praças, parques, avenidas.
O registro das imagens/ações, que era feito em slides, fazia parte indissociável da proposta total e começava nesse momento porque, na verdade esse era todo o acontecimento: ver e fazer parte de uma ação com um bando de gente, onde você não sabe o que vai acontecer depois de arrumar tudo aquilo no lugar onde pediram pra colocar; suando com o esforço, seu corpo e o do outro tremendo com as gargalhadas que chegam com os movimentos inesperados que te acometem ao contato com aqueles objetos que não se deixam apreender completamente, nem pelo que são, nem como função.
O Feli circulava por dentro e pelas bordas de todo o movimento fixando momentos onde a luz, o objeto e o corpo estão em uma relação íntima, nova, e por tudo isso, bela. Bela porque polifônica, um cruzamento entre arte e experiência desde sua gênese até a sua apresentação, envolvendo performance, concepção cênica, literatura, recursos videográficos, desenho, e o design de indumentárias.
Vem dessa parceria o jeito de imagens em ação que mostra o Livro do Inverno EM 2007. Os painéis, como todos os objetos construídos por Gabriela, são amplificadores de sentido, eles deixam entrever os bastidores, criam a conversação entre o que vem antes e depois, revelando que tudo e todos são importantes.
Esta é a origem da marca Elvira Matilde. Desde sempre ela se propôs a vestir quem por ela se sentisse atraído: pessoas com os mais diversos corpos, habilidades, com os pensamentos mais distintos, mas que gostam da inventividade e da aventura da descoberta. Gente que sabe que vive num mundo muito competitivo e ama o que não tem pretensão, que acha o simples completamente instigante. Não reverencia nada que não seja existencial, orgânico, e tem muita verve para ser o que se é. São pessoas que vivem ou gostariam de viver misturando trabalho com afetividade, arte com vida, poesia com o cotidiano. Assim como a vida é uma e tudo está relacionado com tudo.
Esta coleção traz duas vertentes extremas da linguagem da estilista: por um lado o design essencial, sem ornamentos. São aquelas peças com modelagem básica e forte apelo visual/emocional, que se buscássemos sua família universal, poderíamos apontar os sapatos Crocs, o carro Twingo, a caneta Bic, a balinha MM, o prédio do MASP de Lina Bo Bardi... Traz os itens econômicos por sua silhueta e sua multifuncionalidade, como o tricot e a regata que podem ser vestidos de mais de uma forma, cada uma delas causando um shape diferente.
O oposto também está presente: o excesso e o ruído, talvez por causa da experimentação, uma linha mestra do trabalho de Gabriela em arte e no design de moda. São importantes aqui as sobreposições, a linguagem que vem da rua, a informação cultural dos anos 80, o excesso que marca o homem atual. Uma roupa com signos em saturação para esse homem urbano em estado de rush sem hora pra acontecer. Esta é uma lei da natureza: todo processo que atinge um ápice se transforma no seu oposto. Basta ter coragem para ver em si mesmo o caos, o excesso que trazemos em nós, ao invés de projetá-lo no outro. O universo Elvira Matilde é bastante autoral, e quem chega, muitas vezes tem que ser iniciado, numa iniciação até gradual. Culturalmente o “outro” é a maior referência, e não a gente mesmo, daí que pode levar tempo até aparecer a confiança que chega quando nos tornamos indivíduos. A confiança vem quando nos aceitamos com os nossos desejos e também os limites. Quando enfrentamos nossos fantasmas saímos livres, fortes e alegres.
Elvira Matilde é uma marca consciente da sua proposta de comportamento. Roupa é uma pele sensível sobre a pele biológica. Uma veste tecida de sentidos. Roupa para fechar? Ou roupa para abrir? O quê? A percepção? Integrar os vários corpos que temos ao sermos autênticos? Quem veio primeiro: o homem, a roupa, a moda? Para qual homem dirigimos nossa atenção? Em pleno século XXI não dá para falar de moda sem falar para qual homem estamos fazendo as roupas. É assim que hoje fazemos política, arte, ciência, moda. Não existem mais universos estanques e tudo é mesmo misturado, entrelaçado. Uma rede de relações, ao mesmo tempo em que se firma a cada estação o projeto da artista plástica e estilista Gabriela Demarco como uma poética dos corpos.
Gabriela sabe criar a cena. Pintou dois painéis panorâmicos que foram instalados sinalizando performaticamente o local dos acontecimentos. Ao longo do tempo ela trabalhou com alguns fotógrafos, e sempre por mais de uma vez, como uma parceria experimental e investigativa. Com o Feli Coelho existem qualidades únicas, pois foi ele quem fotografou os primeiros tempos de Gabriela no Brasil, quem fotografou a sua família nascente, suas meninas, seus amigos em ação, seus trabalhos iniciais, mas desde já, muito próprios: Urso Panda Gigante (BH, 1983), “onde o nome escrito inúmeras vezes em olivetti – numa fita fininha – alude de forma contrária ao tamanho do animal”. Manta Para Via Pública (BH, 1984), “tapete também gigante no alto da Afonso Pena, este mar ou rio feito de formulário contínuo, hoje em desuso, vira incrivelmente líquido com as ráfagas de vento. E depois, aquele resíduo de papel amassado é até comovente para quem estava lá. A Garota – carranca emblemática de pau de vassoura; apossado de um lote de jornal pintado, materiais perecíveis rasgam, são inadequados, quase impossíveis no espaço público”, nas suas próprias palavras.
Essas primeiras movimentações públicas de Gabriela Demarco no Brasil são expressões físicas/ambientais com grande envolvimento grupal: manufaturas transbordantes ao ar livre que exigiam grandes áreas e vários corpos para serem transportadas e instaladas. Os objetos de grandes proporções, realizados obsessivamente como respiração nos minutos dos dias e das noites, eram transportados por amigos e pelos amigos dos amigos para ambientes urbanos os mais diversos, como praças, parques, avenidas.
O registro das imagens/ações, que era feito em slides, fazia parte indissociável da proposta total e começava nesse momento porque, na verdade esse era todo o acontecimento: ver e fazer parte de uma ação com um bando de gente, onde você não sabe o que vai acontecer depois de arrumar tudo aquilo no lugar onde pediram pra colocar; suando com o esforço, seu corpo e o do outro tremendo com as gargalhadas que chegam com os movimentos inesperados que te acometem ao contato com aqueles objetos que não se deixam apreender completamente, nem pelo que são, nem como função.
O Feli circulava por dentro e pelas bordas de todo o movimento fixando momentos onde a luz, o objeto e o corpo estão em uma relação íntima, nova, e por tudo isso, bela. Bela porque polifônica, um cruzamento entre arte e experiência desde sua gênese até a sua apresentação, envolvendo performance, concepção cênica, literatura, recursos videográficos, desenho, e o design de indumentárias.
Vem dessa parceria o jeito de imagens em ação que mostra o Livro do Inverno EM 2007. Os painéis, como todos os objetos construídos por Gabriela, são amplificadores de sentido, eles deixam entrever os bastidores, criam a conversação entre o que vem antes e depois, revelando que tudo e todos são importantes.
Esta é a origem da marca Elvira Matilde. Desde sempre ela se propôs a vestir quem por ela se sentisse atraído: pessoas com os mais diversos corpos, habilidades, com os pensamentos mais distintos, mas que gostam da inventividade e da aventura da descoberta. Gente que sabe que vive num mundo muito competitivo e ama o que não tem pretensão, que acha o simples completamente instigante. Não reverencia nada que não seja existencial, orgânico, e tem muita verve para ser o que se é. São pessoas que vivem ou gostariam de viver misturando trabalho com afetividade, arte com vida, poesia com o cotidiano. Assim como a vida é uma e tudo está relacionado com tudo.
Esta coleção traz duas vertentes extremas da linguagem da estilista: por um lado o design essencial, sem ornamentos. São aquelas peças com modelagem básica e forte apelo visual/emocional, que se buscássemos sua família universal, poderíamos apontar os sapatos Crocs, o carro Twingo, a caneta Bic, a balinha MM, o prédio do MASP de Lina Bo Bardi... Traz os itens econômicos por sua silhueta e sua multifuncionalidade, como o tricot e a regata que podem ser vestidos de mais de uma forma, cada uma delas causando um shape diferente.
O oposto também está presente: o excesso e o ruído, talvez por causa da experimentação, uma linha mestra do trabalho de Gabriela em arte e no design de moda. São importantes aqui as sobreposições, a linguagem que vem da rua, a informação cultural dos anos 80, o excesso que marca o homem atual. Uma roupa com signos em saturação para esse homem urbano em estado de rush sem hora pra acontecer. Esta é uma lei da natureza: todo processo que atinge um ápice se transforma no seu oposto. Basta ter coragem para ver em si mesmo o caos, o excesso que trazemos em nós, ao invés de projetá-lo no outro. O universo Elvira Matilde é bastante autoral, e quem chega, muitas vezes tem que ser iniciado, numa iniciação até gradual. Culturalmente o “outro” é a maior referência, e não a gente mesmo, daí que pode levar tempo até aparecer a confiança que chega quando nos tornamos indivíduos. A confiança vem quando nos aceitamos com os nossos desejos e também os limites. Quando enfrentamos nossos fantasmas saímos livres, fortes e alegres.
Elvira Matilde é uma marca consciente da sua proposta de comportamento. Roupa é uma pele sensível sobre a pele biológica. Uma veste tecida de sentidos. Roupa para fechar? Ou roupa para abrir? O quê? A percepção? Integrar os vários corpos que temos ao sermos autênticos? Quem veio primeiro: o homem, a roupa, a moda? Para qual homem dirigimos nossa atenção? Em pleno século XXI não dá para falar de moda sem falar para qual homem estamos fazendo as roupas. É assim que hoje fazemos política, arte, ciência, moda. Não existem mais universos estanques e tudo é mesmo misturado, entrelaçado. Uma rede de relações, ao mesmo tempo em que se firma a cada estação o projeto da artista plástica e estilista Gabriela Demarco como uma poética dos corpos.
SP-Março 2007
ELVIRA MATILDE
O nome da marca tem uma história: Elvira Matilde é a avozinha que deu à sua netinha a manha do babado. E agora, saída da história, vira uma personagem cheia de carisma e alegria, tão necessários à nossa vida! ELVIRA MATILDE tem humor até no nome, que não é inventado, mas é o nome real de uma pessoa real. O nome parece uma brincadeira, a historiazinha parece inventada, e a pessoa real vira uma personagem: arte-vida.
Tudo começou com as camisetas pintadas à mão por Gabriela para o time de pelada dos amigos. Elas fizeram sucesso para além dos limites do gramado e foram exigindo mais e mais fornadas para os amigos dos amigos. Camisetas sem nome, mas com uma presença cheia de cor e criatividade, feitas para bancarem os projetos de exposição da artista plástica Gabriela Demarco.
Com o tempo as indumentárias foram ocupando os espaços dos museus com os seus projetos de wearable art. Por outro lado, as produções agora não eram apenas de camisetas, mas de vestidos, calças... Tudo muito natural, mas não sem muita luta também, e nascia a ELVIRA MATILDE, uma homenagem de Gabriela à avó com quem aprendeu um jeito todo próprio de ver as coisas.
A marca ELVIRA MATILDE é parte orgânica do momento histórico e cultural do Brasil do início da década de 1990, quando começa a tomar corpo o que poderíamos chamar hoje de “moda brasileira”. Se naquele momento já possuía uma atitude própria que dava o norte nas condições iniciais, hoje, ao completar seus quinze anos, EM opera estruturada em várias vertentes. Sediada na cidade de Belo Horizonte, conta com um atelier onde as coleções são criadas e desenvolvidas, sendo disponibilizadas em torno de 1.000 referências por coleção. Há ainda um espaço destinado à equipe da marca, responsável pela administração e pela criação e pesquisa de novas tecnologias para o desenvolvimento do seu conceito de franquia, que se propõe sempre dinâmico e flexível, além da fábrica propriamente dita, onde 7.000 peças são produzidas por mês. Desta produção, 50% é confeccionada internamente e o restante tem a sua facção terceirizada, assim como a estamparia e lavanderia que são totalmente terceirizadas.
Em Belo Horizonte o showroom EM de pronta entrega está localizado dentro roteiro dos lojistas de multimarcas, mercado que vem recebendo por parte da marca e do lojista um interesse recíproco e crescente. Atualmente a marca possui sete pontos de venda exclusivos. Como empresa distribuidora, a ELVIRA MATILDE se configura principalmente como franqueadora que perfaz 90% do seu mercado, com unidades franqueadas nas cidades de Belém do Pará, Brasília, Natal, São Paulo, e três unidades em Belo Horizonte, cidade onde está a loja piloto da sua rede de franquias, com uma venda mensal em torno de 1.000 peças.
A unidade de São Paulo e a loja piloto de Belo Horizonte são lojas próprias e se destinam a ser espaços geradores de novos formatos que deverão contribuir para ampliar os conceitos de franquia e de varejo da marca, além de serem campos de experimentação, com lançamentos de novos produtos, como os pufes, os edredons, os espelhos emoldurados, e outros objetos para casa que depois de aprovados poderão ser encontrados em todas as lojas da rede. Para os produtos experimentais e que estão sendo comercializados pela primeira vez em uma loja ELVIRA MATILDE, toda a equipe dessas duas unidades recebe a orientação necessária para que estejam atentas ao comportamento deles e para que possam sinalizar à equipe de Desenvolvimento de Produtos da marca, se eles farão parte da família E.M., ou não.
O projeto arquitetônico das lojas ELVIRA MATILDE, que leva nas paredes as telhas metálicas em cores primárias do bairro portenho La Bocca e tem o mobiliário exclusivo, é uma parceria entre Gabriela Demarco e a arquiteta Isabela Vecci. Totalmente sintonizado com os valores da marca como a diversidade, imaginação, autenticidade, experimentação, movimento e liberdade, cada loja procura revelar a sua diferença, a sua identidade própria.
Tudo começou com as camisetas pintadas à mão por Gabriela para o time de pelada dos amigos. Elas fizeram sucesso para além dos limites do gramado e foram exigindo mais e mais fornadas para os amigos dos amigos. Camisetas sem nome, mas com uma presença cheia de cor e criatividade, feitas para bancarem os projetos de exposição da artista plástica Gabriela Demarco.
Com o tempo as indumentárias foram ocupando os espaços dos museus com os seus projetos de wearable art. Por outro lado, as produções agora não eram apenas de camisetas, mas de vestidos, calças... Tudo muito natural, mas não sem muita luta também, e nascia a ELVIRA MATILDE, uma homenagem de Gabriela à avó com quem aprendeu um jeito todo próprio de ver as coisas.
A marca ELVIRA MATILDE é parte orgânica do momento histórico e cultural do Brasil do início da década de 1990, quando começa a tomar corpo o que poderíamos chamar hoje de “moda brasileira”. Se naquele momento já possuía uma atitude própria que dava o norte nas condições iniciais, hoje, ao completar seus quinze anos, EM opera estruturada em várias vertentes. Sediada na cidade de Belo Horizonte, conta com um atelier onde as coleções são criadas e desenvolvidas, sendo disponibilizadas em torno de 1.000 referências por coleção. Há ainda um espaço destinado à equipe da marca, responsável pela administração e pela criação e pesquisa de novas tecnologias para o desenvolvimento do seu conceito de franquia, que se propõe sempre dinâmico e flexível, além da fábrica propriamente dita, onde 7.000 peças são produzidas por mês. Desta produção, 50% é confeccionada internamente e o restante tem a sua facção terceirizada, assim como a estamparia e lavanderia que são totalmente terceirizadas.
Em Belo Horizonte o showroom EM de pronta entrega está localizado dentro roteiro dos lojistas de multimarcas, mercado que vem recebendo por parte da marca e do lojista um interesse recíproco e crescente. Atualmente a marca possui sete pontos de venda exclusivos. Como empresa distribuidora, a ELVIRA MATILDE se configura principalmente como franqueadora que perfaz 90% do seu mercado, com unidades franqueadas nas cidades de Belém do Pará, Brasília, Natal, São Paulo, e três unidades em Belo Horizonte, cidade onde está a loja piloto da sua rede de franquias, com uma venda mensal em torno de 1.000 peças.
A unidade de São Paulo e a loja piloto de Belo Horizonte são lojas próprias e se destinam a ser espaços geradores de novos formatos que deverão contribuir para ampliar os conceitos de franquia e de varejo da marca, além de serem campos de experimentação, com lançamentos de novos produtos, como os pufes, os edredons, os espelhos emoldurados, e outros objetos para casa que depois de aprovados poderão ser encontrados em todas as lojas da rede. Para os produtos experimentais e que estão sendo comercializados pela primeira vez em uma loja ELVIRA MATILDE, toda a equipe dessas duas unidades recebe a orientação necessária para que estejam atentas ao comportamento deles e para que possam sinalizar à equipe de Desenvolvimento de Produtos da marca, se eles farão parte da família E.M., ou não.
O projeto arquitetônico das lojas ELVIRA MATILDE, que leva nas paredes as telhas metálicas em cores primárias do bairro portenho La Bocca e tem o mobiliário exclusivo, é uma parceria entre Gabriela Demarco e a arquiteta Isabela Vecci. Totalmente sintonizado com os valores da marca como a diversidade, imaginação, autenticidade, experimentação, movimento e liberdade, cada loja procura revelar a sua diferença, a sua identidade própria.
O cliente ELVIRA MATILDE
Podemos nomear algumas profissões de frente do cliente EM: artistas, publicitários, professores, jornalistas, produtores culturais, médicos e outros profissionais ligados à ciência, à filosofia e à arte. Mas, definitivamente, não seria a profissão, a classe social, o sexo, ou a idade que poderão dar visibilidade ao cliente EM, mas sim, o estilo de vida. Vida-arte. Este é o espírito da roupa E.M. Uma vida cheia de invenção no dia a dia, não importa a sua profissão, a sua idade, o tamanho do seu corpo: esta é a afirmação de quem veste a roupa E.M., habitantes de várias cidades espalhadas por todo o Brasil.
O repertório de Gabriela
Gabriela Demarco trabalha na sua ELVIRA MATILDE com um repertório de elementos vindos das artes plásticas e do design. Sua força está na abertura para a experimentação e na sua total liberdade para lidar com variadas técnicas. Das camisetas penduradas no varal do quintal de casa para as produções em série houve o salto engenhoso da estilista que fez uso da técnica da serigrafia como artista plástica, trazendo para o desenho estampado o registro da ação executada pelo gestual do artista, a marca da presença emotiva do autor.
O seu estilo é muito próprio e dominante na sua linguagem, fazendo dos vestidos, por exemplo, peças sem funções de uso definidas, mas desejáveis por seu valor criativo e despojamento. Ele está no oversized, nas peças multifuncionais, no tecido construído – o patchwork -, e no streetwear, que tem na camiseta “o espaço preferido para exposição dos desenhos. Não é o desenho/estampa a serviço do vestuário, mas é a peça de vestuário como suporte para o desenho”, nas palavras de Gabriela.
A malharia é essencial na criação do look EM, com predomínio da silhueta contemporânea de proporções soltas que privilegiam o conforto e uma simplicidade inteligente. Uma mulher bem vestida, numa combinação muito interessante de esportividade e invenção, modernidade e despojamento. Parte desse vocabulário é a combinação arriscada de cores, formas e texturas.
A modelagem vem das formas matrizes universais: a camiseta, o macacão, calça pijama, o avental, blusão, o tubinho, o vestido rocinha (camponesa). A malha e a modelagem, ambos pertencentes ao repertório popular, recebem atitude e acabamentos diferenciados próprios de outros universos, como o dos tecidos finos.
A estamparia é o ponto gerador da linguagem de Gabriela. Os temas não são próprios do universo da moda e são aceitos com a atitude livre, própria de um criador. O tema é a própria vida que é apropriada sem nenhum preconceito: a vaca na baby look da adolescente, o palhaço no bolso da bermuda masculina, o porco no vestido longo da mulher urbana. O desenho estampado é a marca da ELVIRA MATILDE: inconfundível, vigoroso, com todo o jeito de feito um a um.
BH- 2005
ELVIRA MATILDE
HISTÓRIA / ESTÓRIA:
A moda tem as suas referências próprias, seus códigos, signos, enquanto a arte é um universo em que cabem muitas experimentações de linguagem, a moda inclusive. Quando questionada se faz moda, Gabriela responde que faz roupa. Mas o que é a roupa para Gabriela Demarco? Roupa é um objeto vestível?
Wearable performance: MULHER OBJETO DE ARTE I, II, III, 1992, Sesc Pompéia / São Paulo; Instituto Cultural Brasil-Argentina / Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna / Belo Horizonte. Três mulheres emprestam seus corpos que servem de suporte pulsante e imprevisto para as indumentárias compostas de elementos para cabeça, corpo, pés e mãos. A minha atuação se deu como a Mulher Objeto de Arte III, incorporando uma pesada indumentária que me colocou o desafio de descobrir como ficar de pé sobre o pequeno tablado individual, mantendo a duração do tempo de exposição.
A moda tem as suas referências próprias, seus códigos, signos, enquanto a arte é um universo em que cabem muitas experimentações de linguagem, a moda inclusive. Quando questionada se faz moda, Gabriela responde que faz roupa. Mas o que é a roupa para Gabriela Demarco? Roupa é um objeto vestível?
Wearable performance: MULHER OBJETO DE ARTE I, II, III, 1992, Sesc Pompéia / São Paulo; Instituto Cultural Brasil-Argentina / Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna / Belo Horizonte. Três mulheres emprestam seus corpos que servem de suporte pulsante e imprevisto para as indumentárias compostas de elementos para cabeça, corpo, pés e mãos. A minha atuação se deu como a Mulher Objeto de Arte III, incorporando uma pesada indumentária que me colocou o desafio de descobrir como ficar de pé sobre o pequeno tablado individual, mantendo a duração do tempo de exposição.
Desenho e performance podem ser vistos como o cerne do seu trabalho como artista plástica. O seu desenho sempre exigiu ganhar corpo, um corpo vivo, literalmente. As camisetas pintadas à mão para o time de pelada da sua “nova família”, poderiam marcar um começo da sua atividade em B.H. em 1981, vinda de Buenos Aires, sua cidade natal. O desenho tridimensional nas máscaras da sua passagem pela Escola Guignard, nos álbuns gigantes expostos na Biblioteca Pública Luís de Bessa / BH; na malhação de Judas, uma performance de rua, executada pelo grupo de amigos na Semana Santa; “Piquenique na relva”, um alegre off M.A.M / BH; e “Sopão” no M.A.M /BH, quando bailarinos incorporam as indumentárias de mendigos.
Gabriela Demarco é totalmente existencial, daquela linhagem de artista cuja vida é obra, e a obra é a vida. O desenho como a escrita da sua vida. Para ela as coisas vividas sempre ganham um desenho, e isto não é uma metáfora.
Por isto ela não parte de um tema ao iniciar uma coleção. O tema já é a própria vida que é apropriada sem nenhum preconceito: a vaca na baby look da adolescente, o palhaço no bolso da bermuda masculina, o porco no vestido longo da mulher urbana... Quais são os temas recorrentes nos desenhos da sua Elvira Matilde? Toda a natureza: um muito amplo espectro de animais, flores, frutas, as árvores, o homem, a mulher, a criança... Os objetos do cotidiano: cadeira, ônibus, panela, tevê... Ícones da cultura: Rimbaud, Miles Davis, John Cage, Jackson Pollock, Clarice Lispector... E a escrita como desenho está sempre presente.
Mesmo diante deste universo exuberante não podemos detectar qualquer esforço para revelar uma unidade temática. Mas à medida que o trabalho vai sendo criado, ele, por sua vez, vai recriando a artista. Esta alquimia é tudo. E ela existe em Gabriela. Arte-vida. Vida-arte.
BH-2004
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