30.4.09

RACHEL HOSHINO

HOSHI – estrela
NO – campo, origem


A porcelana é a página em branco para a inscrição do nome Hoshino: uma renda de estrelas. A louça translúcida é o caderno de desenho de Rachel Hoshino.

A familiaridade de três gerações com a história da arte da porcelana permite a esta designer criar configurações inéditas. Assim é que a moulage passa a ser a arte de moldar uma ilustração no corpo da louça, e esse objeto ser identificado pelo colecionador e o amante de design com a marca Hoshino. Em suas palavras “o desenho abraça a peça”. Um galho de uma árvore estampada numa tigela não é cortado porque alcançou a linha que divide o dentro e o fora da peça, mas, igual à natureza, o galho abre o seu caminho e alcança o outro lado num gesto de permanente surpresa! (Enquanto você espera pela sopa quentinha que vai preencher a delicada vasilha os seus olhos passeiam e você se alimenta de uma forma muito sutil, com a liberdade dessa árvore imaginada.)

Na coleção N’Ovo Ninho, apresentada em Março de 2009, Rachel Hoshino procura tratar de maneira intencional e distanciada o seu processo de criar singularidades a partir de um repertório de configurações. Uma nova sensorialidade pode ser descoberta através de um processo aberto ao jogo de combinações entre formas, volumes, e cores que é iniciado pela designer no ambiente digital. Estende-se para o modo de produção das peças e prossegue, sempre aberto a influências, para os mais imprevistos espaços cotidianos. As peças são imaginadas para expandirem seu significado estético na relação com outras dentro de um grupo apresentado, e cada um desses pequenos conjuntos revela sentidos que ultrapassam em muito a soma das peças unitárias.

A pesquisa permanente de cultura visual e a experimentação através de viagens e do domínio da utilização de variadas técnicas e ferramentas digitais, definem o modo como R. Hoshino concebe seus desenhos. Antes de se tornarem imagens para serem contempladas em objetos, são grafismos nascidos da sua intenção de combinar formas e estruturas. Esses “módulos-mãe”, como Rachel os chama, são imagens-conceito que vão passando por processos velozes de edição digital como o aleatório, a rotação, inversão, repetição, e combinações sucessivas para criar sentidos, subjetividades. E quando vemos o seu desenho estampado nas mais diversas superfícies, como a porcelana, o tecido, a madeira, o papel, podemos reconhecer o seu traço pelo uso da linha preta, a assimetria das formas, e pelos volumes com grandes espaços vazios. Esses elementos da arte oriental são incorporados assim como o amplo universo temático da natureza.

Com formação em psicologia, Rachel H. está interessada em proporcionar elementos sensíveis aos ambientes cotidianos de modo que venham as novas percepções à flor da pele. As cores são portadoras de simbologias que remetem ao seu estilo: um tempo suspenso pela cor prata; uma atmosfera vivificante trazida pelo verde-água e alegria propiciada pela cor vinho. Algo quase sem peso como asas, nobre e misterioso como os tons dourados sobre as xícaras do cappuccino. Cores e formas que não se impõem, mas querem colaborar com o nosso projeto existencial de celebração sempre adiado.

O início, há dez anos, foi com a pintura em porcelana no atelier de azulejaria ao lado de sua mãe. Como conseqüência de intensa pesquisa de materiais e peças, desenvolveu sua linguagem dentro da cultura digital e de remixes. Interfere e reedita moldes da produção industrial para criar peças híbridas, objetos autorais. Aos saleiros, por exemplo, foram adicionadas variações como orelhas e chifres fazendo deles quase brinquedos para a hora das refeições. À xícara é subtraída a alça e o pires, transformando-a num objeto inédito, enquanto ao formato de garrafa são adicionadas várias alças de xícaras para servirem de cabelos e orelhas daquilo que se torna uma peça escultural decorativa.

A partir de 2007, passa a criar as próprias modelagens e a desenvolver tecnologias próprias para a gravação. Uma linha totalmente exclusiva de itens com funções que vão do utilitário ao decorativo, ganha corpo. A moringa de água, esse utilitário-símbolo de duração da simplicidade como estilo de vida, ganhou seu molde, e agora é uma Moringa Hoshino. O N’Ovo, novíssimo objeto em porcelana fosca, com funções múltiplas dentro da cenografia, pode ser um vaso para flores, e não recebeu nenhuma decoração. Isto é inovação no repertório de Rachel H., reconhecida como designer de superfície.

Também o patrimônio universal de design tem os seus objetos folclóricos e tradicionais remixados. As bonecas artesanais japonesas e russas são recriadas em diferentes versões e usos, como amuleto e também como pequenos cofres. Um dos mais queridos personagens do kitsch, o pingüim de geladeira, por ser único na forma e na ilustração, e por sempre receber novas versões, o Pingüim Hoshino é muito apreciado por colecionadores.

O ESTÚDIO

Com o apoio de pesquisadores e fabricantes, o estúdio Hoshino desenvolve tecnologias próprias como a gravação em porcelana fosca, a sobreposição e torção de desenhos, e a mistura de pigmentos. Também cria projetos exclusivos para clientes de áreas diversificadas como o institucional, tecelagens e confecções, decoração e papelaria. Para Rachel H. a criação é marcada pelo exercício de harmonizar a atenção direcionada tanto à imaginação quanto às necessidades de mercado, ambos somados aos limites apresentados pelo processo de produção industrial.

Participa de trabalhos coletivos no desenvolvimento do conceito de “múltiplos”, como a escultura em madeira de nome Bonsai, criada em parceria com a Vd’sign. O Diário das Estações, realizado juntamente com a designer Flávia Yumi Sakai: quatro cadernetas-diário em papel reciclado e encadernação artesanal com amarração japonesa recebem como ilustração um único objeto iconográfico, a árvore, que apresenta cores diferentes para cada estação do ano. Haru, que significa primavera em japonês, foi o nome da coleção desenvolvida para a Banca de Camisetas, com as cores prata e dourado. Criou estampas exclusivas para as camisetas da Santa Graça, e para a marca Marcenaria Trancoso; desenhos para as jóias de Gabriela Ricca e de Eleonora Hoshino. Os objetos decorativos em louça e lã acrílica são frutos de criação conjunta com a Crochet Jardim, de Thais Ueda.

Uma casa abriga o estúdio de criação, a oficina de decoração, o escritório administrativo, e o showroom que comercializa e distribui as peças Hoshino. Todos os espaços da casa respiram uma concentração alegre, e a cozinha onde um grupo de cinco jovens artesãs faz as suas refeições, tem o acolhimento de um ambiente doméstico bem cuidado. O trabalho na oficina de decoração não é automatizado, pois a linguagem mestra do processo criativo de Rachel H., com a edição digital e sua lógica recombinante de processos abertos, é estendida ao processo em 3D. A equipe tem, então, a oportunidade de criar, dentro de uma temática, inúmeras combinações a partir dos módulos de desenhos em decalque. Este processo faz com que parte das peças que vêm brancas de diferentes fábricas do Brasil, ganhem status de itens únicos. Quando em larga escala, a produção é feita fora, e pode acontecer de peças serem produzidas fora do país, como no caso do oriente.

Desde 2005 a Hoshino participa de feiras nacionais e internacionais, especializadas em decoração e design. Atualmente, exporta para Inglaterra, Bélgica, Japão. Conta com representações nas cidades de Londres, Nova York e Chicago. O atelier atende a pequenos pedidos pelo site e faz a distribuição dos produtos através do showroom. No Brasil a HOSHINO apresenta suas peças utilitárias e decorativas em lojas-conceito que oferecem, para um público bem informado, propostas diferenciadas de estilos de vida.
Março 2009

HOSHINO

N’OVO NINHO

Um momento subjetivo,
Um conjunto singular.
COLEÇÃO HOSHINO – Março 2009

O ovo é a forma matriz para todo o conjunto apresentado, e a idéia de ninho é geradora de objetos e de ilustrações. Conceituais, os Ovos-vasos introduzem o espírito de inovação desta produção mais recente de Rachel Hoshino. Na porcelana branca fosca com modelagem exclusiva, eles vêm sem qualquer decoração, a não ser pelos orifícios esculpidos por onde flores podem ser introduzidas. Em diferentes escalas, assumem um amplo espectro de funções, desde a decorativa e utilitária – um vaso para flores –, à cenográfica, como na ambiência apresentada no flyer da coleção. Quando flores são colocadas dentro dos Ovos-vasos o efeito é como se elas tivessem rompido a casca do ovo. De novo o mistério da criação se renova, e as flores não foram colocadas lá, mas sempre ali estiveram, e de fato nasceram bem dentro desse ovo-vaso. E para serem vistas à luz tiveram que quebrar a membrana de porcelana do vaso.

O mesmo processo acontece com a casa, que é apresentada como o espaço de criação por excelência na vida urbana contemporânea. Os objetos são como despertadores sutis, como o casal de Andorinhas, que pode ser um vaso em miniatura para pequenos arranjos de flores silvestres, preenchendo de vida o lavabo. Iluminada pela presença rara de uma pequena lamparina de cristal, toda a casa mostra-se como lugar sonhado para expandir o imaginário através de objetos que não se deixam apreender em um único olhar. Cuidado: frágil! A segurança vem de se iluminar, e não mais de se esconder, e os objetos com forte presença podem nos deixar alertas! A casa ninho só é segura se aceitar a sua fragilidade plena de sentidos, e desejos de conexões.

Biscuits em forma de ovos são caixinhas, ninhos imantados de simbologias, lugar secreto para as luxuosas e singelas recordações de nossas vidas íntimas. O Nido (ninho em espanhol) recebeu no seu interior outro ovo que é uma vela. Um elemento gráfico remete à pena, e cria um ninho para a vela, e todo o interior da peça é banhado de ouro líquido. A aplicação de estampa e do banho metálico no biscuit – a porcelana sem esmalte – é uma tecnologia exclusiva do estúdio Hoshino, o que torna esses objetos ainda mais especiais.

A moringa Hoshino vem com molde próprio em linhas ovais trazendo vários desenhos. A moulage criada pelo grafismo de penas do Pavão ao abraçar a peça inteira, se destaca, e imprime a sua influência e continuidade até no copo que faz parte dela.

Esse jogo de combinações é um elemento essencial da linguagem da designer Rachel H., e funciona igual às ondas que se formam quando jogamos uma pedra num lago. Um processo aberto que começa na ambiência digital, se instala no modo de produção das suas peças, sempre procurando criar cenas, mais que objetos individuais. Até chegar ao seu destino, dentro dos espaços cotidianos, onde esse aspecto lúdico da criação pode ser apropriado por quem for receptivo a ele.

Essa qualidade está presente nos Vasos Alados, formas fluidas da porcelana com volumes e cores na medida certa para receber as mais criativas combinações dentro de modernos ambientes urbanos. Na peça em branco fosco, por exemplo, a estampa aparece preenchida por tons de dourado, enquanto na louça preta apenas uma linha dourada dá contorno ao mesmo desenho. Uma composição de espelhamentos de sentidos resulta da relação entre essas duas peças, e configura uma cena para a contemplação, experiência tão própria aos nobres vasilhames para flores!

O repertório da ilustradora também se comporta como rede conectiva. As estampas que, nesta coleção, são variações dinâmicas das formas ovais, geram grafismos como Gotas, que se transmutam em Penas, e se metamorfoseiam em Asas que em movimentos ascendente e descendente abraçam as peças, como nos Vasos e Moringas Aladas. Galáxia já é um grafismo que parte da bola, e se relaciona com outros elementos gráficos do seu acervo iconográfico.

Dentro desse jogo combinatório cabem as reedições, e todos são hits Hoshino que, neste conjunto, retornam em ouro e platina. O aparelho de chá decorado com Renda-se, um grafismo que alude aos elaborados crochês da vovó, nas cores platina, ouro e preto, expressa a sofisticação dessas rendas. O casal de Andorinhas, um clássico do repertório popular, vem estampado com os grafismos dos azulejos da cidade de Coimbra, pesquisados em sua viagem à Portugal. O desenho do dente-de-leão, Tampopo em japonês, reaparece com toda a sua grandeza numa moringa de cristal. E, para os colecionadores, a dupla de saleiros-toy O Bem e o Mal.

Bem ao estilo de Rachel Hoshino, as cores significam. A cartela enxuta de inspiração sóbria e elegante, composta com as cores e gradações do dourado, preto e prata, endereça os objetos para elevar as atmosferas das quais irão participar.

15.4.09

Notícias

Aqui é a primeira vez que o novo move, recém nascido, aparece fora das suas páginas. É um lindo blog de viagem que acompanhei intensamente, e terminou com a volta de Elisa R. para casa em SP. Vai lá!
http://nefertitibackhome.blogspot.com/2009/01/eu-voc-e-torcida-do-corinthians-em.html

Você verá que ela continua sua vida inteligente na Monstrópolis, novo point: www.avidanamonstropolis.blogspot.com .

11.4.09

O Lugar Original

Novos conceitos de pontos de venda vêm surgindo no Brasil para a apresentação dos novos objetos de design brasileiro. A sua característica principal, além de uma ambiência cosmopolita, é oferecer propostas de comportamento e de estilos de vida a um também novo consumidor. Chamados de “lojas-conceito”, esses pontos de venda desejam apresentar informação de vanguarda ao seu público, e não apenas produtos, por mais interessantes que eles possam ser.

Como o nome diz, elas oferecem pensamento, acima de tudo. E um conceito forte não traz apenas informação, mas é carregado de uma experiência que o confirma. Uma idéia que magnetiza é algo vivo!Você já deve ter tido a oportunidade de ampliar o conhecimento sobre o seu produto. O seu produto tem uma marca. A sua marca tem identidade. E a identidade da sua marca é múltipla? Então chegamos à pergunta-chave: qual é o espírito da sua marca? A sua marca é algo vivo?

A descoberta da alma de um trabalho é necessária para encontrar o seu suporte, o espaço de apresentação mais afinado com ele, onde todo o seu potencial poderá se firmar.Lugar onde toda a sua potência pode acontecer com liberdade e propriedade. E esse lugar assume formatos mutantes. Somente assim teremos um objeto vivo, um espaço apto a oferecer experiências do âmbito da cultura, e um cliente que busca informação contemporânea nos objetos e nos ambientes.

Super indico o http://www.deuxl.com que apresenta o forte trabalho de Lena Pessoa. Meu primeiro contato com ele foi através da sua palestra "Loja - Imagem - Faturamento", em março de 2006 no BH Shopping, como parte da programação do BH Fashion Music. Foi muito importante para mim encontrar alguém com um grande poder realizador e com atitudes tão próximas àquelas que eu vivencio.

Revelar o que é autoral, o espírito de uma marca, a sua cultura. Se ela é mesmo original pode propiciar a aventura do descobrimento de novas formas para expressar, dar apoio e gerar novos comportamentos cada vez mais afinados com o momento presente, que é o lugar onde tudo acontece. Essa é uma das características de um objeto autoral, de um objeto de design: ele tem a mesma envergadura de um filme, de uma música pop. Não importa o tamanho, mas uma singularidade expressiva propiciadora de conexões, geradora e receptora de sentidos. E a criação de todas as propostas de fortalecimento e irradiação do negócio em si vem da descoberta da sua linguagem própria.

Este processo de pesquisa, criação e produção que me proponho a realizar junto com o designer e o lojista, eu tenho chamado de curadoria. Um processo criativo que envolve estética, valores vitais, concepção e gestão de objetos imaginados de múltiplas naturezas. O design é indústria, mas também é experimentação de linguagens estando por isso ligado à cultura, arte, comportamento. E um modelo como o “plano de negócios”, por exemplo, não pode abranger as complexidades desse objeto.

Não dá para pensar uma marca a partir de um padrão identitário. Portanto, tratamos com subjetividades e não com identidades e outros tipos de sistemas fechados. Os hibridismos, a conectividade simultânea com várias fontes de informação, a experiência multidimensionada de vários processos criativos estão envolvidos, e necessitam de uma mediação aberta às configurações polifônicas.Este trabalho procura pensar e atuar na contemporaneidade propondo conexões com as teorias e filosofias atuais.

A moda, o design, o audio-visual, fazem parte do que é chamado hoje de economia criativa, pois envolve as relações culturais, industriais e comerciais. É cultura, é estética, é produção cultural e industrial. Para criar, desenvolver e produzir em um contexto complexo e competitivo é preciso adotar uma ótica de simultaneidades que é propiciada por um repertório teórico abrangente.
SP – 02 Março 2009